Da Agência Brasil
Em Brasília
Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado hoje
(25) traça um perfil dos atores envolvidos no trabalho escravo rural no
Brasil: as vítimas, os intermediários e os empregadores. De acordo com o
levantamento, em geral, o trabalhador exposto à escravidão contemporânea
no Brasil é homem, negro, analfabeto funcional, tem idade média de 31,4
anos e renda declarada mensal de 1,3 salário mínimo. A grande maioria,
77%, nasceu no Nordeste.
A OIT chegou a esse perfil a partir de pesquisa de campo nas regiões de
maior incidência de trabalho escravo rural no Brasil. Os pesquisadores
entrevistaram trabalhadores resgatados em fazendas do Pará, de Mato
Grosso, da Bahia e de Goiás.
“Invariavelmente a aparência [dos trabalhadores] nas diferentes fazendas
era semelhante: roupas e calçados rotos, mãos calejadas, pele queimada
de sol, dentes não cuidados, alguns aparentando idade bem superior à que
tinham em decorrência do trabalho duro e extenuante do campo”, descreve
o relatório.
Segundo a OIT, o trabalho análogo à escravidão é "todo trabalho ou
serviço exigido de uma pessoa sob ameaça de sanção e para o qual ela não
tiver se oferecido espontaneamente. Além de estar relacionado a baixos
salários e más condições de trabalho, inclui uma situação de cerceamento
da liberdade dos trabalhadores".
De acordo com o coordenador do Projeto de Combate ao Trabalho Escravo da
OIT, Luiz Antonio Machado, o perfil encontrado em campo confirma as
informações do banco de dados do Ministério do Trabalho. Desde 1995,
quando o governo criou o Grupo Especial de Fiscalização Móvel, mais de
40 mil trabalhadores e trabalhadoras foram resgatados de situação de
exploração análoga à escravidão. A maior incidência de trabalho escravo
está na pecuária e no setor sucroalcooleiro.
O levantamento da OIT mostra mais uma face perversa da exploração: a
escravidão contemporânea começa cedo, com o trabalho infantil.
“Praticamente todos os entrevistados na pesquisa de campo (92,6%)
iniciaram sua vida profissional antes dos 16 anos. A idade média em que
começaram a trabalhar é de 11,4 anos, sendo que aproximadamente 40%
iniciaram antes desta idade”, relata a pesquisa.
Segundo Machado, a vulnerabilidade social é o principal vetor de
exposição dos trabalhadores à situação de serviço degradante. “A pobreza
é um catalisador desse problema social. É preciso garantir assistência
às vítimas, para diminuir a vulnerabilidade, porque senão acabam
voltando”. Entre os trabalhadores entrevistados, 59,7% já haviam passado
anteriormente por situação de trabalho escravo.
A OIT também traçou o perfil médio dos intermediários, que aliciam os
trabalhadores, chamados de “gatos”. A maioria também se declarou preto
ou pardo, de origem nordestina, baixa escolaridade e pouca ou nenhuma
formação profissional. “Foi interessante analisar o perfil do gato, que
é o intermediário. A gente percebe que o gato muitas vezes foi um
trabalhador explorado, que, digamos, subiu de posto”, compara Machado.
De acordo com o estudo, a dinâmica de fiscalização dos grupos móveis de
combate ao trabalho escravo vem provocando mudanças no processo de
aliciamento de trabalhadores e a figura do intermediário tem perdido
espaço. “As funções anteriormente desempenhadas pelo gato (aliciamento,
contratação e controle da força de trabalho) têm sido assumidas por
outros agentes. A presença de gatos é menos forte e menos frequente do
que em épocas passadas”, analisam os pesquisadores no documento.
Além dos gatos, a intermediação passou a ser feita, em alguns casos,
pelos próprios trabalhadores – que avisam conhecidos sobre as supostas
propostas de emprego –, por gerentes e proprietários das fazendas e por
escritórios de contabilidade. A OIT ressalta que a mudança nessa
configuração do aliciamento não significa melhoria na condição dos
trabalhadores arregimentados.
Na outra ponta, com perfil socioeconômico muito diferente das vítimas e
dos aliciadores, estão os empregadores. Todos os fazendeiros ouvidos
para a pesquisa estavam incluídos na Lista Suja, cadastro que agrupa
nomes de empregadores flagrados na exploração de trabalhadores em
condição análoga à escravidão. Atualmente, a lista tem 251 nomes, de
acordo com a atualização de julho deste ano.
Em média, de acordo com o levantamento qualitativo na OIT, os
empregadores são homens, brancos, com idade média de 47,1 anos. A
maioria nasceu na Região Sudeste e têm ensino superior completo. A
atividade econômica da maioria dos entrevistados para a pesquisa era a
pecuária. Um dos fazendeiros ouvidos está entre os dez maiores
produtores de gado nelore do país.
Segundo Machado, chamou a atenção dos pesquisadores o fato de alguns
empregadores não reconhecerem a existência do trabalho escravo, mesmo
depois de flagrados pela fiscalização. “Falta percepção dos
empregadores em relação ao crime, não aceitam a existência do trabalho
escravo.”
Fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/10/25/nordeste-exporta-77-da-mao-de-obra-escrava-do-pais-diz-oit.jhtm
(25) traça um perfil dos atores envolvidos no trabalho escravo rural no
Brasil: as vítimas, os intermediários e os empregadores. De acordo com o
levantamento, em geral, o trabalhador exposto à escravidão contemporânea
no Brasil é homem, negro, analfabeto funcional, tem idade média de 31,4
anos e renda declarada mensal de 1,3 salário mínimo. A grande maioria,
77%, nasceu no Nordeste.
A OIT chegou a esse perfil a partir de pesquisa de campo nas regiões de
maior incidência de trabalho escravo rural no Brasil. Os pesquisadores
entrevistaram trabalhadores resgatados em fazendas do Pará, de Mato
Grosso, da Bahia e de Goiás.
“Invariavelmente a aparência [dos trabalhadores] nas diferentes fazendas
era semelhante: roupas e calçados rotos, mãos calejadas, pele queimada
de sol, dentes não cuidados, alguns aparentando idade bem superior à que
tinham em decorrência do trabalho duro e extenuante do campo”, descreve
o relatório.
Segundo a OIT, o trabalho análogo à escravidão é "todo trabalho ou
serviço exigido de uma pessoa sob ameaça de sanção e para o qual ela não
tiver se oferecido espontaneamente. Além de estar relacionado a baixos
salários e más condições de trabalho, inclui uma situação de cerceamento
da liberdade dos trabalhadores".
De acordo com o coordenador do Projeto de Combate ao Trabalho Escravo da
OIT, Luiz Antonio Machado, o perfil encontrado em campo confirma as
informações do banco de dados do Ministério do Trabalho. Desde 1995,
quando o governo criou o Grupo Especial de Fiscalização Móvel, mais de
40 mil trabalhadores e trabalhadoras foram resgatados de situação de
exploração análoga à escravidão. A maior incidência de trabalho escravo
está na pecuária e no setor sucroalcooleiro.
O levantamento da OIT mostra mais uma face perversa da exploração: a
escravidão contemporânea começa cedo, com o trabalho infantil.
“Praticamente todos os entrevistados na pesquisa de campo (92,6%)
iniciaram sua vida profissional antes dos 16 anos. A idade média em que
começaram a trabalhar é de 11,4 anos, sendo que aproximadamente 40%
iniciaram antes desta idade”, relata a pesquisa.
Segundo Machado, a vulnerabilidade social é o principal vetor de
exposição dos trabalhadores à situação de serviço degradante. “A pobreza
é um catalisador desse problema social. É preciso garantir assistência
às vítimas, para diminuir a vulnerabilidade, porque senão acabam
voltando”. Entre os trabalhadores entrevistados, 59,7% já haviam passado
anteriormente por situação de trabalho escravo.
A OIT também traçou o perfil médio dos intermediários, que aliciam os
trabalhadores, chamados de “gatos”. A maioria também se declarou preto
ou pardo, de origem nordestina, baixa escolaridade e pouca ou nenhuma
formação profissional. “Foi interessante analisar o perfil do gato, que
é o intermediário. A gente percebe que o gato muitas vezes foi um
trabalhador explorado, que, digamos, subiu de posto”, compara Machado.
De acordo com o estudo, a dinâmica de fiscalização dos grupos móveis de
combate ao trabalho escravo vem provocando mudanças no processo de
aliciamento de trabalhadores e a figura do intermediário tem perdido
espaço. “As funções anteriormente desempenhadas pelo gato (aliciamento,
contratação e controle da força de trabalho) têm sido assumidas por
outros agentes. A presença de gatos é menos forte e menos frequente do
que em épocas passadas”, analisam os pesquisadores no documento.
Além dos gatos, a intermediação passou a ser feita, em alguns casos,
pelos próprios trabalhadores – que avisam conhecidos sobre as supostas
propostas de emprego –, por gerentes e proprietários das fazendas e por
escritórios de contabilidade. A OIT ressalta que a mudança nessa
configuração do aliciamento não significa melhoria na condição dos
trabalhadores arregimentados.
Na outra ponta, com perfil socioeconômico muito diferente das vítimas e
dos aliciadores, estão os empregadores. Todos os fazendeiros ouvidos
para a pesquisa estavam incluídos na Lista Suja, cadastro que agrupa
nomes de empregadores flagrados na exploração de trabalhadores em
condição análoga à escravidão. Atualmente, a lista tem 251 nomes, de
acordo com a atualização de julho deste ano.
Em média, de acordo com o levantamento qualitativo na OIT, os
empregadores são homens, brancos, com idade média de 47,1 anos. A
maioria nasceu na Região Sudeste e têm ensino superior completo. A
atividade econômica da maioria dos entrevistados para a pesquisa era a
pecuária. Um dos fazendeiros ouvidos está entre os dez maiores
produtores de gado nelore do país.
Segundo Machado, chamou a atenção dos pesquisadores o fato de alguns
empregadores não reconhecerem a existência do trabalho escravo, mesmo
depois de flagrados pela fiscalização. “Falta percepção dos
empregadores em relação ao crime, não aceitam a existência do trabalho
escravo.”
Fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/10/25/nordeste-exporta-77-da-mao-de-obra-escrava-do-pais-diz-oit.jhtm
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