O Portal Primeira Edição apresenta uma série de reportagens sobre os principais problemas enfrentados pelos alagoanos. Hoje, a matéria é sobre Saúde Pública e traz um balanço das carências e investimentos na área.
O paciente que necessita de atendimento médico na rede pública em Alagoas precisa de sorte e uma boa dose de paciência para conseguir atendimento. O senhor João Francisco de 68 anos é um exemplo disso. Ele precisa de uma cirurgia devido a uma luxação no braço, que quebrou em 2008. Seu João já peregrinou em vários hospitais, recorreu a Secretaria de Saúde e ao Ministério Público Estadual, mas mesmo assim não obteve êxito.
Ele conta que seu pedido foi indeferido várias vezes. Os materiais para a cirurgia não são cobertos pela tabela do SUS. Seu João está há aproximadamente três anos com parte dos movimentos comprometidos. O idoso aguarda com ansiedade uma decisão favorável e o cumprimento de um direito garantido pela Constituição Federal aos cidadãos.
João Francisco é apenas um dos alagoanos que dependem do SUS. Números da Agência Nacional de Saúde (ANS) indicam que cresceu de 6% para 11,8% a quantidade de usuários de planos de saúde privados em Alagoas, nos últimos oito anos. Um tímido aumento. Na prática, isso significa que, no ano de 2003, exatamente 94% da população alagoana dependia do SUS. Hoje, são 88,2%.
Com tamanha demanda, o Estado luta para oferecer atendimento médico-hospitalar com o mínimo de qualidade para a população. Para se ter uma ideia, o Hospital Geral do Estado (HGE) atende, em média, 12 mil pessoas por mês. São 410 leitos, dos quais 50 estão na UTI.
Enquanto isso, quem precisa de leito, muitas vezes tem que enfrentar o chão e as
improvisações nos corredores dos hospitais. Internado no HGE, dia 8 de dezembro, Pedro Ricardo Jatobá Correia, 48 anos, sabe bem o que é isso. Ele teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) foi levado às pressas para o Pronto Socorro do bairro Tabuleiro, em Maceió, de madrugada. Ao chegar à unidade, por causa da gravidade do seu quadro de saúde os médicos o encaminharam para o HGE.No Hospital Geral, seu Pedro ficou das 2horas até às 7h da manhã em uma cadeira de rodas, por falta de leito, e a espera de um neurologista para atendê-lo. Em desespero, familiares procuraram ajuda, mas somente pela manhã ele conseguiu uma maca. À tarde o paciente foi atendido e recebeu alta na segunda-feira, dia 12.
Para atender uma população de 3 milhões de habitantes, segundo o secretário estadual de Saúde, Alexandre Toledo, Alagoas precisa, no mínimo, de mais 2 mil leitos para prestar atendimento aos pacientes nos hospitais. Atualmente são pouco mais de 20 mil . Mas a crise dramática não para por aí. As gestantes de alto risco também sofrem com a falta de vagas.
A Santa Mônica é o único hospital público do Estado capaz de atender gestantes de alto risco. Quando há superlotação, as pacientes são encaminhadas ao Hospital Universitário Professor Alberto Antunes, que é vinculado a Universidade Federal de Alagoas e atende a gestantes de alto risco.
Para minimizar a situação, segundo Alexandre Toledo, o Estado está desapropriando uma área próxima à maternidade Santa Mônica. Com isso, espera poder ampliar o número de atendimentos. Também está em fase de licitação a reforma da UTI e UCI Neonatal da Maternidade. Na Santa Mônica, 75% das pacientes de alto risco são oriundas de cidades do interior de Alagoas.
Faltam médicos
A falta de profissionais é outro grave problema. O secretário de Saúde, Alexandre Toledo, reconhece que o Estado tem carência de várias especialidades na capital e no interior. “Temos carência de algumas especialidades, mas a falta de profissionais não é o único problema, temos falta de leitos, precisamos ampliar a cobertura do PSF (Programa Saúde da Família) e muitas outras coisas”, admitiu.
Segundo o Sindmed, apenas 10% dos médicos que se formam em Alagoas ficam no Estado. Para o presidente do sindicato, a migração dos médicos recém-formados para outros Estados reflete a falta de investimentos na área de saúde. Wellington Galvão explica que além das condições de trabalho precárias na maioria dos hospitais públicos, os baixos salários desmotivam os profissionais. “A média salarial de um médico em Alagoas é de R$ 5mil, em Sergipe um médico recebe, em média, R$ 9 mil. Por isso, apenas 10% dos médicos que se formam aqui permanecem em Alagoas e o Estado tem carências em todas as especialidades”, ressaltou.
Galvão ainda aponta outros problemas. Segundo ele, os médicos que atuam na rede pública também precisam se desdobrar para atender o grande número de pacientes, uma vez que são poucos os profissionais que se submetem a ganhar os baixos salários pagos em Alagoas. Recentemente mais de 400 médicos do PSF cruzaram os braços em todo o Estado. Um médico do PSF é responsável pelo atendimento de 3 mil pessoas. Em algumas cidades, a categoria continua em greve.
Wellington Galvão cita também a questão da superlotação nos hospitais da capital. Para ele, a distribuição das 150 ambulâncias cidadãs pelo Governo do Estado para as cidades do interior contribuiu para o aumento do número de pacientes em Maceió. “Ao invés de o Governo reestruturar, dar condições para que os municípios atendam os doentes, entregou ambulâncias para que eles sejam trazidos para Maceió”, disse.
"É preciso torcer pra não precisar do HGE", diz Almeida
Até o prefeito de Maceió, Cícero Almeida, reconheceu a dificuldade enfrentada pela maioria dos alagoanos. Ele disse na semana passada, dia 20, em entrevista ao programa Ministério do Povo, da Rádio Gazeta de Alagoas, que é preciso torcer para não precisar do HGE e nem dos serviços prestados nas unidades de Saúde do município. Além da declaração, Almeida falou que a construção do Hospital Metropolitano de Maceió não vai acontecer. “O projeto desse hospital foi divulgado na época da campanha eleitoral e fazia parte de uma campanha de marketing”, disse. Agora, o prefeito defende que o Estado tome a iniciativa de construir outras unidades hospitalares e procure descentralizar o atendimento médico na capital fazendo melhorias nos hospitais em cidades do interior.
Nem tudo é desgraça
Apesar da crítica situação da saúde, nem tudo é desgraça. Graças a implementação de algumas políticas públicas, este ano Alagoas conseguiu várias vitórias. Entre elas, está a inauguração de três novas bases do SAMU em cidades do interior. Somente em Arapiraca e em Maceió, cerca de 200 pessoas são atendidas por dia pelo serviço.
Outra importante conquista foi que Alagoas deixou de ser o líder do ranking de mortalidade infantil. Segundo o Ministério da Saúde, os esforços realizados pelo Governo do Estado surtiram efeito e Alagoas agora ocupa a 16ª posição no ranking nacional. A Sesau investiu R$ 8,3 milhões só em 2011 visando reestruturar as UCIs e UTIs das 23 maternidades públicas e conveniadas ao SUS. O Estado também conseguiu reduzir 81% dos casos de dengue em 2011. De janeiro a novembro deste ano foram notificados 9.959 casos. Em 2010, no mesmo período, foram registrados 52.647 casos. Os dados são do Comitê Estadual de Mobilização da Dengue.
Na lista das coisas boas, a Sesau pode citar ainda o investimento de cerca de R$ 11 milhões na Unidade de Emergência Daniel Hoully, em Arapiraca e, R$ 7.094 milhões em reforma e ampliação no HGE.
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