Existem alguns pensamentos sobre o conceito de saúde. Saúde como ausência de doença. Superado pelo saúde como bem estar físico, psíquico e social. Não basta! Precisamos articular estes dois conceitos a um pensamento mais abrangente. Penso saúde como possibilidade de as pessoas "lutarem". Porém, simplesmente o "lutar" não explica, pois no capitalismo que constantemente tem levado ao adoecimento também falamos de "matar um leão por dia para sobreviver no mercado". Está aí: lutar para avançar além da sobrevivência, dos rituais do trabalho e além da mercantilização capitalista. Então o pensamento sobre saúde fica mais ou menos assim:
Saúde como possibilidade de as pessoas lutarem por questões além da sua sobrevivência e além das relações mercadológicas.
Não, falta algo aí! Quais poderiam ser estas ditas questões? Tudo e qualquer coisa? Seria então igual para todos? Aqui entra a perspectiva do sujeito. Porque além da sobrevivência e das relações de mercado existem os sujeitos e as relações dos sujeitos entre si. Sujeito entendido como pessoa com projetos e desejos. Está aqui um bom parâmetro: o desejo, entendido como, algo, dificílimo de traduzir em palavras, que pulsa dentro da pessoa trazendo realização e poder. Aqui dois parênteses são necessários, o primeiro sobre realização e outro sobre poder.
A depressão, por exemplo, para além de questões biológicas é um sintoma da não realização do sujeito na perspectiva do desejo em uma sociedade pautada por uma visão dominante de sucesso que não contempla as pessoas como sujeitos. Depressão a índices epidêmicos é o que capitalismo tem produzido mais do que mercadorias.
Agora sobre o poder e felicidade é fundamental Nietzsche:
O que é felicidade? – A sensação de que o poder aumenta – de que uma resistência foi superada.
Hoje quando ocupamos locais públicos, como os indignados espanhóis ou como o Ocupe Walt Street americano ou mesmo a versão brasileira com o "Ocupa Sampa" e reivindicamos participação, democracia direta, estamos também mudando a correlação e querendo mais poder para os sujeitos e menos para os poucos que estão no controle dos interesses econômicos das multinacionais. Então arrisco o pensamento sobre saúde desta forma:
Saúde como possibilidade de as pessoas lutarem por sua realização enquanto sujeitos, fortalecendo seu desejo, ampliando seu poder além da sobrevivência e das relações mercadológicas.
Há, mais ainda mantém um equivoco liberal dos pensamentos anteriores, típicos da individuação capitalista. Ainda mantém a busca por saúde como uma questão individual, dependente da própria pessoa ou de um único sujeito.
Os sujeitos se constituem e se realizam nas relações com outros sujeitos. Então é indispensável o conceito de saúde a partir de uma perspectiva coletiva. Também porque se consideramos Nietzsche que felicidade é ampliação do poder. O poder de cada um é ampliado em uma perspectiva de alianças com outros sujeitos.
Aqui ficaria desfalcado se não fizer menção honrosa ao pensamento da saúde coletiva, aonde a saúde é um fenômeno social onde é fundamental saber quais são os determinantes sociais do processo saúde e doença. Um avanço com certeza ainda não aplicado no sistema de saúde brasileiro.
Então, pela última vez, pelo menos neste texto o pensamento sobre saúde:
Saúde como possibilidade de as pessoas lutarem pela realização dos sujeitos, fortalecendo o compromisso de todos com o desejo, ampliando o poder de todos além da sobrevivência, das relações mercadológicas e considerando determinantes sociais que levam ao processo de adoecimento.
Tenho vivido um processo de produção de saúde em meu local de trabalho. Um Centro de excelência em saúde mental pautado pelo que há de melhor na reforma psiquiátrica como CAPS e Residência Terapêutica buscando a realização dos sujeitos. Fomos obrigados pelo governo Alckmin a lutar por nosso trabalho. Pois pelas costas dos trabalhadores o governo Tucano anuncia a privatização deste local e o fechamento para realizar internação compulsória de dependentes químicos. (esta sim uma perspectiva de saúde que a meu ver não considera o sujeito).
Desta forma os trabalhadores, usuários e familiares do CAISM Água Funda tomaram a decisão de lutar de forma unificada com os que defendem a reforma sanitária e psiquiátrica e os que defendem os direitos humanos colocando este pensamento de saúde como uma prática cotidiana.
Paulo Spina
Trabalhador do CAISM Água Funda
Liderança do Fórum Popular de Saúde
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