quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Após lutar por cirurgia na Justiça, menino morre a uma semana da operação

16:00 - 24/08/2011 Luciana Buarque e Sidney Tenório
Luiz Marcos mostra a foto do filho Gabriel Juan

Portador de uma cardiopatia congênita, o menino Gabriel Juan da Silva, de 2 anos, faleceu na noite desta terça-feira (23), a apenas uma semana de passar por cirurgia para corrigir o estreitamento de uma artéria. O garoto teve uma crise e chegou sem vida ao mini pronto-socorro do Tabueleiro.

Para ter direito ao tratamento medicamentoso e à cirurgia, a família precisou ingressar com um processo judicial há quatro meses e, há cerca de 20 dias, a Justiça determinou o procedimento cirúrgico imediato. Segundo o músico Luis Marcos Sobral, pai de Gabriel, a luta pela sobrevivência do menino vinha sendo travada desde que ele nasceu, em 2009.

Por meio da decisão do juiz Fernando Tourinho de Omena Sousa, da Vara da Infância e da Juventude, o menino foi encaminhado ao médico Emerson Casado, da equipe de cardiologia da Santa Casa de Misericórdia de Maceió. A cirurgia de Gabriel Juan estava marcada para a próxima quarta-feira, 31 de agosto.

Procurado pela reportagem do Tudo Na Hora, o cardiologista disse que o falecimento da criança, ontem, foi uma fatalidade e que todos os procedimentos preparatórios para a cirurgia vinham sendo feitos desde que a decisão judicial foi comunicada.

Já a família do menino, inconformada, acredita que o médico descumpriu a decisão judicial. “O juiz deu o prazo de 24 horas para meu filho ser operado, mas o médico avaliou o estado de saúde dele e disse que não era urgente, que ele podia esperar”, afirmou o pai, Luis Marcos.

O médico defende que o corpo da criança deve passar por necropsia, pois até o momento não há provas de que a causa da morte tenha sido o problema cardíaco.

“Todos os procedimentos foram tomados”

O médico explicou que todos os exames prévios à cirurgia do menino acusaram um estado de saúde “ótimo” e que a criança sequer tomava remédios para a cardiopatia. Assim, a cirurgia foi marcada para a primeira data livre no hospital, que seria o próximo dia 31, com consentimento do juiz Fernando Tourinho e da família de Gabriel.

"O juiz não pode determinar a urgência médica. Quem determina a emergência do procedimento é o médico. Telefonei para o juiz Fernando Tourinho e expliquei que era necessário realizar os exames prévios e preparar a criança para a cirurgia, o que foi feito", justificou o cardiologista Emerson Casado.

“Se o paciente apresenta uma patologia moderada e é constatado que não há urgência, porque passaríamos a criança na frente de outros pacientes?”, questionou Casado, afirmando que Gabriel já “pularia” uma fila de 66 pacientes.

O médico diz, ainda, que recebeu um telefonema da mãe do menino por volta das 21h desta terça-feira (23), avisando que a criança estava passando mal já há três dias. “Orientei a mãe a levar Gabriel para a emergência pediátrica do HGE [Hospital Geral do Estado], mas o menino faleceu ao chegar ao mini pronto-socorro do Tabuleiro”, contou. “Como posso ser penalizado por essa fatalidade?”, indaga.

Saúde precária no estado

De acordo com o médico, a cada ano nascem entre 500 e 700 crianças com cardiopatias em Alagoas, mas apenas quatro são tratadas por mês através da saúde pública.

“Esse caso foi a ‘gota d’água’ para que eu pare de operar crianças no estado”, desabafou. “Casos como esse acontecem pela falta de estrutura, de leitos, entre outros problemas”.

Crianças com problemas cardíacos atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) só podem ser operadas na Santa Casa de Maceió.

Ação judicial

Os pais da criança pretendem entrar com uma ação na Justiça para responsabilizar o cardiologista pela morte da criança. Segundo os pais, o menino tinha insuficiência respiratória frequente e tinha passado por uma pneumonia que o deixou internado durante o mês de junho no Hospital Geral do Estado (HGE).

O médico afirma, ainda, que o menino sempre foi atendido sem necessidade de marcação e que deu atenção diferenciada à família. “Não costumo dar o número do meu celular a todo mundo. Eles tinham meu telefone e só me ligaram no terceiro dia da crise da criança”.

“Posso ter descumprido a ordem judicial, mas expliquei os procedimentos ao juiz, que se convenceu da situação”, diz o médico. “Tenho a consciência tranquila”.


Fonte:

http://tudonahora.uol.com.br/noticia/maceio/2011/08/24/152495/apos-lutar-por-cirurgia-na-justica-menino-morre-a-uma-semana-da-operacao

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